sábado, 23 de setembro de 2017

O amor e a justiça de Deus - um ponto de tensão?




   Examinamos várias características de Deus, sem as esgotar de maneira alguma. Mas qual a relação entre elas? Presume-se que Deus seja um ser uno, integrado, cuja personalidade forma um todo harmonioso. portanto, não deveria haver nenhuma tensão entre esses atributos. Mas é isso mesmo que acontece?

   O ponto de possível tensão que se destaca é a relação entre amor de Deus e sua justiça. Por um lado, a justiça de deus parece muito severa, exigindo a morte dos que pecam. É um Deus feroz, rigoroso. Por outro, Deus é misericordioso, generoso, perdoador, longânimo. Os dois conjuntos de características não estariam em conflito? Há, portanto, uma tensão interna na natureza divina?

   Se partimos das pressuposições de que Deus é um ser integrado e os atributos divinos são harmoniosos, definiremos um atributo de acordo com o outro. Desse modo, a justiça é uma justiça de amor e o amor, um amor justo. A ideia de que são conflitantes pode ter surgido com a definição isolada de cada atributo. Embora o conceito de amor à parte da justiça, por exemplo, possa ser inferido de outras fontes, não é um ensino bíblico. O que estamos dizendo é que não há uma compreensão plena do amor, a não ser que se veja que ele inclui a justiça. Se o amor não inclui a justiça, é mero sentimentalismo.

   Na realidade, o amor e a justiça tem trabalhado juntos no tratamento que Deus dispensa à humanidade. A justiça de Deus exige que a pena do pecado seja paga. O amor de Deus, porém, deseja que sejamos restaurados à comunhão com ele. A oferta de Jesus Cristo como expiação pelo pecado significa que tanto a justiça como o amor de Deus são mantidos. E de fato não existe nenhuma tensão entre eles. Só existe tensão se a pessoa entende que o amor exige que Deus perdoe o pecado sem que nenhum pagamento seja feito. Mas isso é pensar em um Deus diferente do que realmente é. Além disso, a oferta de Cristo como expiação mostra um amor de Deus muito maior do que seria, caso ele simplesmente fosse indulgente, livrando as pessoas das consequências do pecado. Para cumprir sua aplicação justa da lei, o amor de Deus foi tão grande que deu seu Filho por nós. O amor e a justiça não são dois atributos separados que competem entre si. Deus é justo e amoroso, e ele mesmo deu o que exige.


Introdução a Teologia Sistemática - Millard J. Erickson



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