sábado, 8 de outubro de 2016

Pode alguma coisa ser verdadeira para você e não para mim?




"Tudo é relativo". "É verdade para você, mas não para mim". "É apenas a sua realidade". "Quem é você, para impor os seus valores aos outros?"

O relativista crê que a verdade funciona como a opinião ou perspectiva, e que a verdade depende da nossa cultura, do contexto, ou até mesmo de escolhas pessoais. Assim se explicam os atos perversos de nazistas ou terroristas ("Não gostamos, mas eles tem as suas razões"). O relativismo, no entanto, tem sérias falhas.

O relativismo não pode deixar de proclamar uma verdade que corresponde à realidade. "A lua é feita de queijo" é uma afirmação falsa, porque não está de acordo com a maneira como as coisas são. Como cristãos, declaramos que a história bíblica é verdadeira, porque está em conformidade com as realidades da existência de Deus e das suas atitudes para com os seres humanos. A verdade é um relacionamento - uma combinação com aquilo que é real ou com aquilo que é fato. Uma ideia é falsa quando não combina com o que é real ou fato. Mas o que dizer dos que fazem declarações como: "A realidade é como um monte de barro - podemos moldá-la da maneira que quisermos!" (uma ideia relativista, conhecida como antirrealismo). Nós podemos com razão, questionar estas declarações. Afinal, estas pessoas creem que o seu ponto de vista corresponde à maneira como as coisas são. Se você discordar delas, elas provarão que você está errado. Observe também que elas acreditam que exista pelo menos uma coisa que não está sujeita à manipulação humana - especificamente, a realidade inabalável de que a realidade é como um monte de barro que podemos moldar da maneira como quisermos! Assim, podemos perguntar: "Esta ideia do monte de barro é algo que você inventou?" Se ela se aplica a todos, então a declaração é incoerente. Se não se aplica a todos, então não é nada além da perspectiva de uma pessoa. Por que levá-la a sério? E se não existir uma verdade ou realidade objetiva, como saberemos que as nossas crenças não são ilusórias ou enganosas?

O relativismo contradiz a si mesmo. Se alguém afirmar ser um relativista, não acredite. Um relativista dirá que sua crença é verdadeira para você, mas a dele é verdadeira para ele, e que não existe uma verdade objetiva que se aplique a todas as pessoas. O único problema é que esta mesma afirmação é uma verdade objetiva, que se aplica a todas as pessoas! (Mesmo quando ele diz: "É verdade para você, mas não para mim", ele acredita que a sua perspectiva se aplica a mais do que uma pessoa!). Para mostrar a natureza contraditória do relativismo, podemos simplesmente introduzir declarações relativistas da seguinte forma, com os seguintes prefácios: "É objetivamente verdade que "isto é para você, mas não para mim"", ou: "É verdade que "Não existe verdade"". A contradição torna-se aparente. Ou o que dizer da vertente de que a crença sincera torna alguma coisa (budismo, marxismo, cristianismo) verdade? Devemos perguntar: este princípio é universal e absoluto? É verdade, ainda que eu não acredite nele sinceramente? Isto é, e se eu acreditar sinceramente que a crença sincera não torna alguma coisa verdadeira? As duas perspectivas não podem, obviamente, ser verdadeiras.

A base e a conclusão do relativismo são objetivamente verdadeiras. Pergunte a pessoa relativista por que ela adota esta perspectiva. Provavelmente, ela dirá: "Muitas pessoas acreditam em muitas coisas diferentes". O problema aqui é que ela acredita que isto seja universalmente verdadeiro e indiscutível. Além disso, ela acredita que a conclusão lógica a se extrair da grande coletânea de crenças é que o relativismo deve ser o correto. A pessoa relativista não acredita que todas estas crenças diferentes sejam uma questão de preferência pessoal. A base para o relativismo (a variedade de crenças) e a conclusão de que o relativismo obviamente deriva dela, acabam sendo lógicas e objetivamente verdadeiras - para todas as pessoas, não apenas para a pessoa relativista!

O relativismo será sempre seletivo. As pessoas normalmente não são relativistas sobre a lei da gravidade, sobre bulas de remédio ou sobre o rendimento de ações. Normalmente, são relativistas no que diz respeito à existência de Deus, à moralidade sexual, ou a trapaças em exames. Os direitos e o relativismo não se misturam. Mas se "tudo é relativo", por que se irritar com os outros?

O relativismo normalmente é motivado por um objetivo pessoal - a busca de autocontrole. John Searle, filósofo ateu, revela o que está por trás do relativismo: "Ele satisfaz uma necessidade básica de poder. Mas, de alguma maneira, parece excessivamente desagradável e revoltante que tenhamos de estar à mercê do 'mundo real'". Nós queremos estar no controle. Agora, apontar a motivação de alguém não é um argumento contra o relativismo; ainda assim, é uma consideração digna de nota. A verdade frequentemente é menos importante do que a liberdade. Mas está claro: quando uma pessoa ignora os argumentos em favor da inevitabilidade da verdade objetiva com um "tanto faz", tem em mente outro objetivo. O relativismo não nos faz exigências pessoais - amar a Deus, ser uma pessoa íntegra, ajudar a melhorar a sociedade. Embora o relativismo seja falso, é conveniente para algumas pessoas.


Paul Copan




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