quinta-feira, 25 de junho de 2015

A TRANSGRESSÃO DE LÓ - I

Para entendermos com profundidade a ligação entre a perversão sexual e a passividade, vamos considerar a im­portante história da família de Ló.

A TRANSGRESSÃO DE LÓ

A mortal transgressão da passividade

"E ao amanhecer os anjos apertavam com Ló, dizendo: levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui es­tão, para que não pereças no castigo da cidade. Ele, porém, se demorava."

Ao estudar a história de Ló, deparamo-nos com a situação de um homem e de uma família que tinham tudo para dar certo, mas que acabaram tendo um final trágico. Infelizmen­te, não temos aqui uma história de sucesso, ou o testemunho de alguém que venceu a perversão sexual. Pelo contrário, esse é um exemplo de uma família que sofreu as inevitáveis consequências da imoralidade. Ló acabou os seus dias de­primido, bêbado e isolado numa caverna.                                                                               
Ainda que Deus tenha tirado Ló de Sodoma antes que essa fosse destruída, ele não conseguiu tirar Sodoma de Ló. Acabou sendo embriagado, seduzido e abusado sexualmen­te pelas próprias filhas, as únicas sobreviventes de Sodoma. Porém, apesar da deprimente história de Ló, acredito que podemos aprender muito com seus erros.
O que assusta é que, por mais que Deus tenha enviado anjos para resgatar Ló de Sodoma, ainda assim ele procrastinava, e, simplesmente, não reagia. Precisou ser quase que arrastado pelos anjos. Ló não conseguiu lidar com a sua pas­sividade. Transgrediu contra o socorro divino. Isso acabou sendo fatal, como veremos a seguir.

Sodoma: o lugar da corrupção espiritual e da procrastinação

"Então disseram os homens a Ló: Tens mais alguém aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos quantos tens na cidade, tira-os para fora deste lugar; porque nós vamos destruir este lugar, porquanto o seu clamor se tem avolu­mado diante do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo. Tendo saido Ló, falou com seus genros, que haviam de casar com suas filhas, e disse-lhes: Levantai-vos, saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade. Mas ele pareceu aos seus genros como quem estava zombando. E ao amanhe­cer os anjos apertavam com Ló, dizendo: levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças no castigo da cidade. Ele, porém, se demorava; pelo que os homens pegaram-lhe pela mão a ele, à sua mulher, e às suas filhas, sendo-lhe misericordioso o Senhor. Assim o tiraram e o puseram fora da cidade... E subverteu aquelas cidades e toda a planície, e todos os moradores das cidades, e o que nascia da terra. Mas a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida em uma estátua de sal" (Gn. 19:l2-26).

Esse texto abrange pessoas que perderam a disposição espiritual. Gente que se deixou desgastar de forma errada e por coisas desnecessárias. Isso tem sido uma febre na igreja e na sociedade, de modo geral. Quando se perde a dispo­sição, a próxima coisa a ser perdida é a visão. Perdem-se as prioridades. Quando alguém se desloca da visão, também, ao mesmo tempo em que despreza a unção, abandona a missão.

Ló saiu juntamente com Abraão para o seu chamado. Ele havia deixado tudo para começar uma vida de obediência à visão de Deus. Juntos, eles prosperaram muito e alguns pro­blemas vieram. Um dos perigos da prosperidade é que ela, muitas vezes, leva as pessoas a reassumirem direitos que haviam sido entregues a Deus. A consequência é a contenda. Então foi necessária uma separação entre Abraão e Ló. A se­paração, em si, nem sempre é uma coisa ruim, mas a forma como ela se dá é  crucial.

Abraão, como homem de Deus, sabiamente se norteia pela senda do caminho estreito. Essa talvez foi a maior pro­va da vida de Ló e, infelizmente, ele fracassou. "Porventura não está toda a terra diante de ti? Rogo-te que te apartes de mim. Se tu escolheres a esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, irei eu para a esquerda" (Gn. 13:9).

Ao invés de preferir em honra a Abraão, impulsionado pela ganância, Ló tem uma nova visão: "Então Ló levantou os olhos, e viu toda a planície do Jordão, que era toda bem regada (antes de haver o Senhor destruído Sodoma e Gomorra), e era como o jardim do Se­nhor, como a terra do Egito, até chegar a Zoar" (Gn. 13:10).

Esse é o ponto da ruptura, quando Ló deixa de se condu­zir pela visão e passa a ser conduzido pelo desejo. É funda­mental discernir a diferença entre a visão de Deus e o desejo humano. E aqui que muitos se perdem e acabam tendo que pagar o alto preço que a cobiça cobra.

Ló se encanta com a possibilidade de uma vida fácil. Ele cobiça as campinas do Jordão, que significavam um tipo de prosperidade misturada com soberba, fartura e abundância de ociosidade (Ez. 16:49). Na verdade, estava barganhando o seu chamado.

Traído pelos olhos, acabou tomando uma decisão errada que comprometeu o seu chamado e o futuro da sua família. Queria facilidades e encontrou problemas. Cobiçou o fértil vale de Sodoma e acabou terminando seus dias entocados numa caverna, totalmente derrotado.

A prosperidade, muitas vezes, oferece um ambiente de ociosidade espiritual em que floresce a decadência e a depravação. Será só uma questão de tempo, e juízo virá. Pre­cisamos sair desse endereço. O mais perigoso desse lugar é que ele tem o incrível poder de prender a alma e algemar o coração. Aqui mora a passividade.

E muito importante entendermos o retrocesso da família de Ló, pois ele reflete fortemente um aspecto real da atu­al igreja. Pessoas que começaram muito bem e, de repente, começam a parar. Como aqueles que dão tudo no início de uma maratona, para, rapidamente, verem suas forças termi­narem e seu fôlego se exaurir. Não souberam administrar seus esforços, e agora, encontram-se num lugar perigoso e, ao mesmo tempo, sem ter a consciência do perigo em que vivem. Esse foi o drama de Ló e sua família, que é a tipologia da igreja que começou bem e, simplesmente, estacionou e apostatou.

Eles haviam saído para o chamado de Deus e aprende­ram a viver pela fé. Enquanto estavam com Abraão, tinham uma vida de beduínos. Moravam em tendas e viviam assim, de lugar em lugar, pastoreando rebanhos cada vez maiores, desfrutando o potencial da terra. A esposa de Ló lavava sua roupa no riacho, improvisava, muitas vezes, o alimento, e, dessa forma, enquanto dependiam de Deus, prosperavam tremendamente.

Mas agora, em Sodoma, tinham uma vida espiritual con­fortável. Tudo era mais fácil. Ela se sentia muito bem. As pessoas ali não eram tão taxativas. Sentiam-se melhor em re­lação à consciência. Suas debilidades morais nem eram mais notadas. Afinal, aquelas pessoas eram liberais até demais. É quando o discernimento espiritual vai sendo silenciado.

O seu coração foi criando raízes e se acomodando à nova situação. Uma sonolência espiritual a envolve, como um cobertor quente numa cama macia. Porém, estavam se detendo num domicílio espiritual perigoso, totalmente absorvido pela passividade, num ambiente onde a perversão sexual reinava.

É quando falamos: "Já sofri demais, quero apenas confor­to! Não tem problema abrir algumas concessões à imorali­dade; ninguém é de ferro!" Vivemos uma "nova" ética, a do não-sacrifício. Existe uma ética, desde que não exija nada de mim - nenhuma renúncia. Ninguém quer pagar o preço. En­quanto for bom para mim, eu permaneço. Se já não me sin­to bem, rompo o compromisso. Não existe mais fidelidade ao casamento, mas ao sentimento. Não somos mais fiéis ao outro, e, muito menos, a Deus, mas ao que "eu sinto". Essa, também, foi a saga da esposa de Ló.

Quando precisou sair desse domicílio espiritual, olhou para trás. Não podia deixar tudo aquilo que a fazia se sen­tir tão bem. Por fim, virou uma estátua de sal, um ícone da apostasia, uma mensagem a nunca ser esquecida, como Je­sus disse: "Lembrai-vos da mulher de Ló" (Lc. 17:32).

Pouco antes, Deus levantou Abraão como intercessor, e então veio uma mensagem muito clara para Ló. Saia desse domicílio! Há perigo onde vocês estão. Mesmo assim, eles estavam se detendo. Deus estava dizendo: Ló, você tem que mudar de endereço. Santifique sua vida. Sua esposa está contaminada, suas filhas já estão contaminadas, e se você não sair, você vai morrer também! Porém, eles estavam de­masiadamente acomodados. Começaram a procrastinar.

Os anjos estavam empurrando-os para fora daquele lu­gar, e eles ainda estavam tentando algum jeito de ficar: "...os anjos apertavam com Ló ... Ele, porém, se demorava". É quando Deus já nos falou quinhentas vezes o que devemos fazer, mas não fazemos. Não reagimos. Não nos posicionamos. Não decidimos. Estamos distraídos e conformados demais na nossa ociosidade espiritual e na próspera tranquilidade.



Ló não era um grande pecador. A Bíblia o descreve como justo. Porém, um justo que se acomodou. Por causa dessa transgressão, consequências catastróficas atingiram sua fa­mília. Sua esposa foi fulminada. Depois disso, transformou- se em um homem deprimido, bêbado e que se deixou per­verter pelas próprias filhas. Deixou um terrível legado maldição sobre sua descendência. Seus filhos, que também eram netos, Amom e Moabe, tomaram-se grandes inimigos de Israel e povos avessos à salvação.
Antonio Carlos Rogoski
cont.


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