quarta-feira, 12 de junho de 2013

O argumento de Richard Dawkins para o ateísmo, em The God Delusion

O que o senhor acha do argumento de Richard Dawkins a favor do ateísmo no livro Deus, um delírio
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Nas páginas 157-158 de seu livro, Dawkins resume o que ele chama de “o argumento central de meu livro” da seguinte maneira:
1. Um dos maiores desafios ao intelecto humano tem sido o de explicar como surge a aparência complexa e improvável de projeto no universo.
2. A tentação natural é a de atribuir a aparência de projeto ao próprio projeto verdadeiro.
3. A tentação é falsa, pois a hipótese de projeto faz surgir imediatamente o problema maior sobre quem projetou o projetista.
4. A explicação mais poderosa e engenhosa é a evolução darwinista pela seleção natural.
5. Não temos uma explicação equivalente para a física.
6. Não devemos perder a esperança de que surja na física uma explicação melhor, algo tão poderoso quanto é o darwinismo para a biologia.
Logo, Deus quase certamente não existe.
Esse é um argumento discrepante, visto que a conclusão ateísta “Logo, Deus quase certamente não existe” parece subitamente ilógica. Não é necessário ser filósofo para compreender que essa conclusão não é deduzida das seis declarações anteriores.
Na verdade, se considerarmos as seis declarações como premissas de um argumento que leva à conclusão “Logo, Deus quase certamente não existe”, então o argumento é patentemente inválido. Nenhuma regra de inferência lógica permitiria deduzir essa conclusão a partir das seis premissas.
Seria uma interpretação mais caridosa considerar as seis declarações, não como premissas, mas como resumos de seis passos no argumento acumulativo de Dawkins a favor da sua conclusão de que Deus não existe. Contudo, ainda que se trate de uma interpretação caridosa, a conclusão “Logo, Deus quase certamente não existe” não é inferida desses seis passos, mesmo que os admitamos como verdadeiros e justificados.
O que se deduz dos seis passos do argumento de Dawkins? No máximo, tudo que se depreende é que não devíamos inferir a existência de Deus com base na aparência de projeto no universo. Tal conclusão, porém, é bem compatível com a existência de Deus e também com a nossa crença justificável na existência de Deus. Talvez devêssemos acreditar em Deus, tendo como base o argumento cosmológico, o argumento ontológico ou o argumento moral. Pode ser que nossa crença em Deus não esteja baseada em nenhum tipo de argumento, mas fundamente-se na experiência religiosa ou na revelação divina. Pode ser que Deus queira que creiamos nele simplesmente pela fé. A questão é que a rejeição dos argumentos de projeto a favor da existência de Deus de nada serve para provar que Deus não existe, e muito menos que não há justificativa para se acreditar em Deus. Na verdade, muitos teólogos cristãos têm rejeitado alguns argumentos em prol da existência de Deus, sem com isso se comprometerem com o ateísmo.
Portanto, o argumento de Dawkins a favor do ateísmo é um fracasso, mesmo que admitamos, a bem do debate, todos os seus passos. Na verdade, vários deles são plausivelmente falsos. Considere-se apenas o passo (3), por exemplo. Aqui, a alegação de Dawkins é que não se justifica a inferência de projeto como a melhor explicação para a ordem complexa do universo. Daí, então, surge um novo problema: quem projetou o projetista?
A réplica é falha em pelo menos duas alegações. Para que uma explicação seja considerada como a melhor não se faz necessária a explicação da explicação. Trata-se de uma questão elementar com respeito à inferência da melhor explicação, conforme a prática da filosofia da ciência. Se, ao cavarem a terra, alguns arqueólogos descobrissem artefatos parecidos com pontas de flechas, cabeças de machados e fragmentos de porcelana, eles teriam razão de inferir que esses artigos não resultaram ocasionalmente de sedimentação e metamorfose, antes são produtos de algum grupo humano desconhecido, mesmo que não tivessem nenhuma explicação sobre que grupos eram nem de onde vieram. De modo semelhante, se alguns astronautas se deparassem com uma pilha de maquinismos amontoados do outro lado da lua, teriam razão de inferir que eram produtos de agentes inteligentes extraterrestres, mesmo que não tivessem a mínima ideia de quem teriam sido eles nem de como chegaram lá. Para admitir-se que uma explicação é a melhor, não é necessário conseguir explicar a explicação. De fato, esse tipo de exigência levaria à regressão infinita de explicações de tal maneira que nada jamais poderia ser explicado, e a ciência seria destruída. Portanto, no caso em questão, para se reconhecer o projeto inteligente como a melhor explicação para a aparência de projeto no universo, não há necessidade de explicar o projetista.
Outra razão é que Dawkins acha que, no caso de um projetista divino do universo, este é tão complexo como a coisa a ser explicada, de modo que não se faz nenhum avanço na explicação. Essa objeção dá origem a toda sorte de questões quanto ao papel da simplicidade na avaliação de explicações concorrentes. Por exemplo, como a simplicidade deve ser aquilatada em comparação com outros critérios como competência explicativa, abrangência explicativa, e assim por diante. Mas deixemos de lado essas questões. O erro fundamental de Dawkins está em supor que um projetista divino seja uma entidade cuja complexidade seja comparável à do universo. Como mente incorpórea, Deus é uma entidade extraordinariamente simples. Como entidade não física, a mente não se compõe de partes e de suas propriedades proeminentes, como autoconsciência, racionalidade e volição, que lhe são essenciais. Em contraste com o universo contingente e diversificado, com todas as suas grandezas e constantes inexplicáveis, a mente divina é surpreendentemente simples. Com certeza uma mente assim teria ideias complexas — poderia pensar, por exemplo, no cálculo infinitesimal —, mas a mente em si é uma entidade extraordinariamente simples. É evidente que Dawkins confundiu as ideias da mente, que podem realmente ser complexas, com a própria mente, uma entidade incrivelmente simples. Portanto, supor uma mente divina por trás do universo não representa em nenhuma hipótese um avanço em simplicidade, se é que isso vale alguma coisa.
Os outros passos do argumento de Dawkins também são problemáticos, mas acho que disse o suficiente para mostrar que seu argumento não serve de nada para minar a inferência de projeto baseada na complexidade do universo, e isso para não falar de sua utilidade como justificação para o ateísmo.
William Lane Craig
Originalmente publicada como: "Richard Dawkins' Argument for Atheism in The God Delusion". Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/richard-dawkins-argument-for-atheism-in-the-god-delusion. Traduzido por Marcos Vasconcelos. Revisado por Cristiano Camilo Lopes.


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