quarta-feira, 6 de julho de 2011

Eu Sou




Lugares chuvosos


Numa manhã de setembro de 2001, Frank Silecchia amarrou os cordões das suas botas, colocou o seu chapéu e saiu da sua casa em Nova Jersey. Como um trabalhador da construção civil, ele ganhava a vida construindo edifícios. Mas como voluntários nas ruínas do World Trade Center, ele apenas tentava entender tudo aquilo. Frank esperava encontrar alguém com vida, porém não conseguiu. O que encontrou foram quarenta e sete cadáveres.
No entanto, no meio daquele amontoado de cadáveres, ele tropeçou num símbolo – uma cruz de aço, feita de vigas, de seis metros de altura. O choque da Torre Um sobre o Edifício Seis criou uma nuvem de poeira no meio da confusão. Os raios do sol ao refletir sobre tal cenário fizeram com que Frank enxergasse uma cruz.
Nenhum guindaste tinha içado a cruz; nenhum cimento a suportava. As vigas estavam erguidas independentes da ação humana. Erguidas sozinhas, mas não sozinhas. Outras cruzes descansavam ao acaso, na base da maior. Tamanhos variados, diferentes ângulos, porém todas cruzes.
Alguns dias mais tarde, os engenheiros perceberam que as vigas da cruz maior vinham de dois edifícios diferentes. Quando um colidiu com o outro, as duas vigas se uniram, forjadas pelo fogo.
Um símbolo no meio dos escombros. Uma cruz encontrada na crise. “Onde está Deus no meio de tudo isto?”, perguntávamos. A descoberta nos desafiou a ter esperança: “Bem no meio de tudo isso”.
Será que a mesma coisa pode ser dita sobre as nossas tragédias? Quando a ambulância leva o nosso filho, ou a doença, o nosso amigo; quando a economia leva nossa aposentadoria, ou um relacionamento secreto, o nosso coração – será que podemos, como Frank, encontrar Cristo na crise? A presença dos problemas não nos surpreende. A ausência de Deus, no entanto, nos destrói.
Podemos lidar com a ambulância, se Deus estiver nela.
Podemos suportar a UTI, se deus estiver nela.
Podemos enfrentar a casa vazia, se Deus estiver nela.
Ele está?
Mateus gostaria de responder esta pergunta por você. As paredes que desabavam ao seu redor eram feitas de água. Nenhum teto tinha desabado, mas parecia que o céu sim.
Uma tempestade no mar da Galiléia era semelhante a um lutador de sumô (luta japonesa), com uma enorme barriga, jogado numa piscina infantil. O vento comprimindo e soprando rajadas no lago, por toda a parte. Ondas de três metros de altura eram comuns.
O relato começa ao cair da noite. Jesus está orando na montanha, e os discípulos estão no barco, com medo. Eles estão “no meio do mar, [açoitados] pelas ondas” (Mt 14.24). quando cristo virá até eles? Às três horas da manhã (v. 25). Se a “noite” começou as seis da tarde, e Cristo veio as três da manhã, os discípulos estiveram sozinhos na tempestade durante nove horas! Nove horas tempestuosas. Tempo suficiente para que mais de um deles perguntasse: “Onde está Jesus? Ele sabe que estamos no barco. Pelo amor de Deus, foi idéia dEle. Estará Deus por perto?”
E do meio da tempestade vem uma voz inconfundível: “Sou eu”.
O manto molhado, o cabelo ensopado. As ondas batendo em sua cintura e a chuca ferindo o seu rosto. Jesus fala logo com eles: “Tende bom ânimo, sou eu; não temais”(v. 27).
Essas palavras soam estranhas, não é verdade? Se você já leu a história, estará acostumado a um grito diferente de Cristo. Alguma coisa como: “Tenham coragem! Sou eu!”, ou Ëstá tudo bem... eu estou aqui!”, ou “Coragem, sou eu”.
Uma tradução literal da sua afirmação resultaria em “Coragem! Sou eu! Não tenham medo”. Os tradutores improvisam as suas palavras por motivos óbvios. “”Sou eu” parece truncado. Ëu estou aqui” parece mais completo. Entretanto, o que Jesus gritou na tempestade foi simplesmente o magistral “Sou eu”.
Falando de uma sarça em chamas a um amdrontado Moisés, Deus anunciou: “EU SOU O QUE SOU” (Ex 3.14).
Num desafio supremo aos seus inimigos, a fim de provar que as suas afirmações eram falsas, Jesus declarou: “...antes que abraão existisse, eu sou”(Jo 8.58).
Determinado a dizer isto quantas vezes fossem necessárias, num alto e bom som”, Cristo diz:
·        “Eu sou o pão da vida”(Jo 6.48).
·        “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12).
·        “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á” (Jo 10.9).
·        “Eu sou o bom Pastor” (Jo 10.11).
·        “Sou Filho de Deus” (Jo 10.36).
·        “Eu sou a ressureição e a vidfa”(Jo 11.25).
·        “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14.6).
·        “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15.1).

O Cristo do verbo no presente. Ele nunca diz: “Eu era”. Nós, sim. E dizemos, porque “nós éramos”. Éramos mais jovens, mais rápidos, mais bonitos. Propensos a sermos pessoa dos verbos no passado. Deus, não. Inabalável em sua força, Ele jamais precisa dizer: “Eu era”.
        O céu não tem espelhos retrovisores. Nem bolas de cristal. O nosso “Eu Sou”, nosso Deus, nunca diz: “Algum dia eu serei”.
        Novamente, nós desejamos. Alimentados por sonhos, estendemos o braço ao horizonte. “Algum dia eu...” Porém Deus, não. A água pode ser mais molhada? O vento pode não soprar? Deus pode ser mais Deus? Não. Ele não muda. Ele é o grande Deus, o “Eu Sou”. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13.8).
        Do meio da tempestade, o resoluto Jesus diz: “Eu Sou”. Em tom alto, no meio das ruínas do World Trade Center.ousado contra as ondas da galiléia. Na UTI, no campo de batalha, na reunião da diretoria, na cela da prisão, ou no berçario – qualquer que seja a sua tempestade, Ele diz: “Eu Sou”.
        A construção destan passagem faz ecoar este ponto. A narração é formada por dois atos, ou duas cenas, cada um com seis versículos. O primeiro, dos versículos 22 a 27, concentra-se na poderosa caminhada de Jesus. O segundo, dos versos 28 a 33, na caminhada de fé de Pedro.
        No primeiro ato, Cristo vem sobre as ondas e declara as palavras gravadas em um coração sábio: “Tende bom ânimo, sou eu; não temais”. Na segunda cena, um discípulo desesperado dá um passo de fé e – por um momento – faz aquilo que Cristo faz. Ele caminha sobre as águas. Então desvia seus olhos de Cristo e faz o que fazemos. Ele cai.
        Duas cenas. Cada uma com seis versículos. Cada conjunto de seis versículos contém noventa palavras gregas. E bem no meio das duas cenas, dos dois grupos de versículos, das 180 palavras, está esta declaração de duas palavras: “Eu Sou”.
        Mateus, que é bom em números, reforça este ponto. Isto aparece em camadas, como um sanduíche:
        Graficamente: Jesus – ensopado, mas forte.
        Linguisticamente: Jesus – o Deus “Eu Sou”.
        Matematicamente: seja nas palavras ou no ambiente climático, Jesus – no meio de tudo.
        Deus está no meio das circunstâncias! Mar vermelho. Grandes pescarias. No covil dos leões e nas fornalhas. Nos negócios falidos e nas celas das prisões. No deserto da Judéia, nos casamentos, nos funerais e nas tempestades da Galiléia. Olhe, e você descobrirá o que todos, de Moisés a Marta, descobriram. Deus, no meio das nossas tempestades.
        Isto inclui a sua.
        Durante os dias em que este livro estava sendo escrito, uma jovem mulher morreu na nossa cidade. Ela era casada havia pouco tempo, mãe de um bebê de dezoito meses. A sua vida foi abreviada. O socorro e a esperança parecem inaproveitáveis nessas ocasiões. Todavia, no funeral, o pastor que estava encarregado da cerimônia partilhou conosco uma lembrança, no seu elogio fúnebre, que nos deu as duas coisas.
        Durante muitos anos ela tinha vivido e trabalhado em Nova Iorque. Em virtude de sua longa amizade, ele estivera em contato em contato com ela via e-mail. Numa noite, recebeu uma mensagem direta da presença persistente de Deus.
        Ela não tinha descido do metrô na sua estação. Quando percebeu o equívoco, não soube o que fazer. Orou por segurança e por algum sinal da presença de Deus. Isto não era nem a hora nem o lugar para que uma mulher jovem e atraente passasse sozinha por um bairro perigoso. Nesse momento, as portas se abriram, e entrou um homem de aparência indigente, extremamente mal arrumado, que se jogou no banco ao seu lado. Deus? Você está por perto?, ela orou. A resposta veio numa canção. O homem pegou uma gaita tocou “Que o Senhor Seja minha Visão” – o hino favorito da mãe dela.
        A canção foi suficiente para convencê-la. Cristo estava ali, no meio de tudo.
        Silecchia o viu, em meio aos escombros. Mateus o viu nas ondas. E você? Olhe com atenção. Ele está aí. Bem no meio de tudo.


O Salvador mora ao lado – Max Lucado – págs. 139 a 142

Nenhum comentário:

Postar um comentário